O Rio é uma cidade de ventos. Quem observa
sua geografia, a maneira como a linha do litoral
se dobra de repente para "dentro",
o modo, enfim, como a Baía de Guanabara
toma forma, ao mesmo tempo concha que recolhe
e dinâmo que faz o vento rodar sobre
si mesmo para ganhar novo impulso e direção,
tudo isso, intuitivamente conduz o observador
atento e vagabundo, a considerar que é
no Rio que o vento faz a curva... E diria
mais o observador se, além de atento
e vagabundo, fosse também um delirante:
ele diria que é exatamente na esquina
das ruas Dois de Dezembro e Catete que o fenômeno
ocorre, ou é ali ao menos que ele é
mais sensível. É ali que vento
ronda. Ali a gente sente primeiro quando o
vento entra Baía adentro, vindo do
mar...
Será? Eu, na verdade, não entendo
nada de ventos e menos ainda da rosa dos ventos
- mas que lindo nome não daria - Rosa
dos Ventos. Personagem, mulher ou pseudônimo,
que figura seria...
No catálogo não há nenhuma
família Ventos ou dos Ventos.
Há os Ventania - que é um modo
do vento, quando ele é forte e breve,
mas já não dá o mesmo
efeito: Rosa Ventania não soa igual
a Rosa dos Ventos :
- Qual o seu nome?
- Rosa dos Ventos... (e para não que não soe muito estranho, ela completaria, à maneira de James Bond) Caetano... Rosa dos Ventos Caetano....
Seria Rosa minha mulher ou minha filha? Supondo que é mais fácil criar uma Rosa dos Ventos do que encontrá-la pronta, concluo que Rosa dos Ventos Caetano é minha filha... Quem a parirá é outra história...
Parirá... Você sabia que, por uma dessas maluquices do idioma, o verbo parir não se conjuga no presente - nem na primeira, nem na segunda, nem na terceira do singular? Quer dizer, nem eu, nem tu, nem ela - parimos. Sim, porque só nós parimos. E vós também, vós paris - o que soa muito chic... Vós paris Rosa dos Ventos - para quem dizer a frase? Essa é a história...
Mas,
enfim, nem eu, nem tu, nem ela - só
nós e vós. Tem uma coisa bonita
nisso, se a gente quiser.. É que faz
do ato de parir um ato plural, de dois indissoluvelmente...
Eu se inventasse uma religião hoje
acabava com o casamento, mas deixava o batizado.
Bastava.
Outra coisa bonita é que não
faz sentido dizer ele: parir é um verbo
exclusivamente feminino... Existem outros?
Ou algum exclusivamente masculino? Não
vou parar pra pensar, mas acho que não...
Afinal, eu fui falar em rosa dos ventos e me perdi... Divaguei... Mas o que eu ia mesmo dizer de útil e educativo era que, por contas justamente dessa facilidade em divagar, instituí para consumo próprio o seguinte critério: o Cristo olha para a luz, para o leste, de costas, claro, para o poente, com o sul à direita e o norte à esquerda... No Rio, pingo é letra e o Cristo é bússola.<