Nada nesta
casa marca a tua ausência.
"Você não está aqui"
é uma frase sem sentido.
Na verdade, você está em outro
lugar.
Pouco importa que - fosse outro tempo
Ou tivesse seguido a nossa história
-
Você pudesse estar aqui a esta hora.
A verdade é
que você está em outro lugar
agora.
Entre o "e" e o "ou" que
fazem o ritmo incessante da vida,
Entre o caminho e o atalho, você escolheu
o "ou".
Que eu chame de "não" a esse
"ou"
E diga "Você não está
aqui",
É muito mais que um simples vício
de linguagem..
Último
recurso da subjetividade abalada pelo abandono,
A frase se choca contra o real - onde nada
aponta a tua ausência -
E, do doloroso encontro do que me vai por
dentro
Com a indiferença do que por fora permanece,
Extrai-se, sem a anestesia de palavras doces,
A certeza da absoluta contingência de
todos os fatos:
Para esta casa, onde tudo soa ser cadeira,
mesa, livro
E assim nomeadamente, estar você aqui
ou não, tanto faz.
A ilusão de necessidade a que eu chamava
amor
Não era senão isso - ilusão.
E como ilusão, pertencia a mim apenas
-
E não a ti, que nunca deixaste de ser
tu, impenetravelmente.
Te amei como um cego surdo paralítico
- mas nunca me faltaram palavras...
E deve ter sido pouco o amor que te dei.
"Você
não está aqui...",
chora o eu consigo mesmo.
"E daí?",
responde cada objeto em seu silêncio
imóvel
de coisa que o tempo rói
com a lenta precisão dos relógios
("Vivemos
como sonhamos, sós",
Leio em Conrad...
E quando nos damos conta,
Ou é o mesmo ou é a morte.)