1 de abril de 2002
Camisinhas

Por que todas as camisinhas disponíveis no mercado têm 52 mm de diâmetro?
Esse é um mistério que me intriga há anos.

Anéis, sapatos, camisas, calças, escovas de dentes, meias, pulseiras, cordões - a todos os órgãos humanos é concedido o luxo prático da variedade, da diferença expressa em números e letras que variam segundo o tamanho. Somente ao pênis - para ser mais exato, somente ao pênis masculino, visto que qualquer sexy shop de porta de igreja vende uma variedade de pênis "avulsos" de todos os tamanhos e funções! - enfim, somente ao pênis masculino - ou melhor, para que não paire nenhuma sombra de preconceito sexista: somente ao pênis humano é exigido que tenha um só tamanho. E, na impossibilidade flagrante do cumprimento (ou do comprimento) de tal exigência, se conformar ao uso de um acessório disponível apenas em tamanho único! Mais especificamente, de diâmetro único: 52 mm. Você até encontra maiores, mas é raro. E mais caro. Bem mais caro.

Sempre me intrigou a milimétrica precisão do contra-senso: cinqüenta e DOIS milímetros. Não um, três ou quatro - 52 milímetros. E ninguém sabe quem estabeleceu o padrão. Nem como. Perguntei aos assessores do Ministério da Saúde e aos autointitulados "cientistas da Johnson e Johnson". Nada. Os cientistas preferiram até mudar de assunto. Pela lógica, no entanto, só há duas possibilidades

A primeira é que o resultado foi alcançado depois de intensa e democrática medição, além de um estudo profundo da dinâmica dilatadora dos corpos cavernosos e músculos estriados do pênis (humano), chegando-se, enfim, a um diâmetro médio ideal, uma espécie de diâmetro áureo, capaz de acomodar todos os pênis (humanos e artificiais) do mundo.

Outra hipótese menos lisonjeira, é que alguém tenha servido de modelo anônimo para se alcançar a medida. Teríamos assim chegado ao pênis como medida universal, mais ou menos como os ingleses chegaram ao pé ou à polegada, isto é, baseado na medida dos órgãos de algum figurão que teria preferido permanecer no anonimato, provavelmente para manter-se livre dos protestos de uns e do escárnio de outros.

O governo, aliás, deveria aproveitar a deixa e lançar o pênis, uma nova moeda de 52 mm de diâmetro. Os ingleses não têm o penny? Pois o Brasil teria o pênis. Poderia ser uma moeda de 5 reais, por exemplo. Assim, além do galo (50 reais) e da perna (100 reais), haveria também o pênis, de 5 reais. Como diz o pessoal do Casseta e Planeta, seria a primeira moeda de duplo sentido do mundo! Imagine a quantidade de piadas e trocadilhos possíveis de se fazer com o pênis? Como o brasileiro vive duro (opa!), o pênis serviria ao menos para enriquecer nossa imaginação.

De qualquer modo, a questão permanece: por que 52 mm de diâmetro?

Incrível que ninguém no Ministério da Saúde ache a questão relevante. Tanto que as camisinhas periodicamente distribuídas pelo Estado são sempre de 52 mm. Uma boa parte deve virar balão em festa de aniversário. Pois, sendo o brasileiro um típico afro-americano (designação politicamente babaca que tem a vantagem de abarcar desde o mulato mais quase branco até o preto mais retinto), uma camisinha desse tamanho só serve mesmo pra encher de ar.

Cheguei a sugerir aos assessores do Ministério que lançassem ao menos uma edição especial de camisinha mais larga na Bahia - para compensar a oposição de ACM ao Serra no estado. Claro, todo leitor de Jorge Amado sabe que essa camisinha de 52 mm na Bahia é touca. Seria, portanto, um alívio pra baianada que certamente acabaria rendendo muitos votos para Serra. Infelizmente, não me levaram a sério.

Engraçado é que não é assim em todo mundo. Uma rápida pesquisa na Internet e você encontra sites tipo "O Rei das Camisinhas" que vendem, via Internet, uma variedade de tamanhos capaz de satisfazer do etíope ao japonês a preços bastante razoáveis.

Enfim, onde eu quero chegar é que é quase uma hipocrisia falar em "estímulo ao uso" e, em contrapartida, se oferecer à canalhada apenas um tamanho de camisinha. Já é chato usar, apertado então chega a ser cômico. Eu recomendo inclusive nem olhar. Para não rir diante de algo em tudo semelhante a esses anões de jardim que enfeitam as casas de campo suburbanas.