3 de junho de 2002
É hoje

É hoje. Aliás, dependendo da hora em que você está me lendo, o certo seria dizer "foi hoje". Essa Copa parece que foi organizada pelo Ricardo Teixeira, junto com o Caixa D'água e o Eurico Miranda. Só mesmo eles para bolar um campeonato com jogos às seis da manhã e a final às oito. Em Tóquio! Pensando bem, pra quem já fez o Flamengo jogar às dez da noite de quarta-feira em Juiz de Fora (ou qualquer coisa assim), isto é o que se chama por aí de "desenvolvimento natural".

A coisa é tão absurda que, pela primeira vez, só a TV Globo transmitirá a Copa, tamanha a dificuldade de arranjar espectadores e, por consequência, anunciantes. Ao menos deste lado do mundo, essa Copa tem tudo para ser um fracasso comercial. Dá pra imaginar uma Copa patrocinada pelo Leite Molico ou pelo Sucrilho Kellogs? Como diz o Fábio, chefe aqui da redação, quem pode vai beber cerveja a essa hora da manhã?!

Aliás, com o Felipão prometendo nos dar tanta dor de cabeça, não entendo como a Aspirina não pegou uma cota de patrocínio. Porque eu vou lhe contar, nem carro de auto-escola tem dois volantes - só a seleção brasileira. E parece pesadelo: eu já repito essa piada há uns dez anos ou mais e a única coisa que muda é o nome do técnico e dos tais volantes - que, já houve época, eram chamados de cabeças-de-área. E pior: sempre tem um com nome e sobrenome. Isto é outra praga. Escalação de time brasileiro hoje em dia às vezes parece reunião de diretoria de multinacional: todo mundo tem nome de doutor. A impressão que se tem é que o futebol virou um esporte de família - mais ou menos como a política e a economia.

O mais engraçado é que, quanto mais perna-de-pau, mais sobrenome. Não duvido nada que qualquer dia apareça um volante chamado Augusto César de Souza Lima e Silva Júnior ou algo parecido. E ainda acabe titular da seleção. Jogador quando é bom, em geral não tem nome, tem apelido. Claro, há as exceções de praxe - afinal, o futebol é uma caixinha de surpresas.

Cite aí você, leitor, um craque atual com nome e sobrenome, que a mim aqui não ocorre nenhum. Até sei que tem, só que é mais ou menos como essas notas de dois reais: raríssimo.

Mas apesar de toda a apreensão, não há como ser pessimista. Essa Copa foi feita para o Brasil ganhar. Claro, alguma compensação tinha de haver para um horário desses. É só prestar atenção e juntar os fatos. Primeiro, o Brasil joga com Madureira, Bonsucesso e Olaria. Depois encara o Botafogo. Só daí em diante é que a coisa começa a ficar séria, mas mesmo assim, enquanto nossos futuros adversários terão quebrado muita pedra, para nós o mundo terá sido só tangerina, como se vê.

Andei inclusive estudando a tabela e cheguei à conclusão profética de que a final será Brasil e Camarões. Não explicarei os intrincados critérios que adotei para conduzir meu estudo, mas convido o leitor a aplicar um misto de lógica, fé e humor que chegará à mesma conclusão. Não sei se este é um ano regido por Iemanjá, mas, pelo visto, depois de papar os Camarões, o Brasil ainda vai ter que engolir o Lula. Tudo cru, que assim é a receita japonesa para frutos do mar.

Portanto, eu não poderia estar mais animado. Seremos pentacampeões e em julho vai ter carnaval. Mais: o Felipão será tão elogiado, que acabará eleito para a Academia Brasileira de Letras, depois que um imortal vestir o fardão de madeira por conta da emoção da conquista. Isso se o Felipão não acabar vice do Serra. Ou candidato do PFL à presidência.

Agora, se esses caras perderem a Copa... Bom, os jogadores pode ser até que escapem, mas o técnico vai ter que desembarcar no Maranhão e pedir asilo político ao Jorge Murad. Olhando bem, eles são até parecidos.. Vade retrum!!