28 de abril de 2003
45 anos

45 cravados. Fim da primeira etapa e o juiz não deu nem desconto por conta do tempo perdido nas bolas fora, na cera, nos passes errados, nas inevitáveis substituições. De jogo corrido deve ter sido pouco mais da metade. Dava para esticar esses 45 iniciais pelo menos até aos 48. Mas o homem de preto não tem piedade: jogo é jogo e o tempo não pára, já dizia o saudoso Waldir Amaral, que morreu no meio da transmissão.

A torcida compareceu. É pouca, mas fiel. Não vaiou, mesmo nos piores momentos. É verdade que houve quem saísse ainda no primeiro tempo. Não eram torcedores. Era aquele tipo de gente que só fica enquanto o jogo está bom. O torcedor de verdade, aquele que veste a camisa, agora grita palavras de incentivo: ver o time correr os 45 sem cansar e chegar ao fim do primeiro tempo ainda inteiro já é motivo de comemoração.

O placar marca empate de um a um. De virada. O time custou a encontrar seu jogo. Não era salto alto, era desentrosamento mesmo. Acabou levando um gol logo no começo e passou quase todo o primeiro tempo tentando bater córner e correr para cabecear. Finalmente, aos 41, concluiu que mais inteligente era tentar um gol olímpico. Acertou no ângulo, sem chances para o goleiro adversário e delírio da torcida.

45 - sem descontos e sem intervalo. É só o tempo de trocar de campo e camisa. Por incrível que pareça, neste jogo só não se perde peso. Pelo contrário, sempre se engorda um pouco ao longo do primeiro tempo. E ainda mais no segundo.

No banco, uma garotada nova, louca para mostrar serviço, não pára de se aquecer. Cheios de disposição, eles sabem que jogar os 90 regulamentares é quase impossível e esperam entrar lá pelos 20 do segundo tempo, 70 de jogo corrido. Quem está em campo sempre acha que dá para ir até o final, mas este jogo é uma caixinha de surpresas. Quem manda é o técnico e basta uma entrada mais dura para a gente acabar saindo antes da hora. Uma coisa é certa: depois dos 60 começa a doer tudo.

O jeito é partir para o ataque, garantir a vitória até aos 70 e passar o resto do tempo só jogando para torcida. Mesmo assim, é um risco. Muito craque que tentou jogar até o fim acabou saindo na maca - literalmente morto. Por isso, a maioria prefere sair mais cedo e ficar do banco dando palpite: "Ah! Esse eu fazia...", "Ah! Se fosse comigo...".

Melhor nem pensar nisso. Ainda tem muita bola para rolar, o time ganhou experiência no primeiro tempo e tem tudo para chegar á vitória no segundo. É só jogar o feijão-com-arroz, com muita garra e humildade.