5 de maio de 2003
Piercing no nariz

- O que você acha de eu colocar um piercing?
- O quê?
- Um piercing.. No nariz.
- No nariz?
- É... Mas não é um "loop" grandão. É só um "stud"azulzinho...
- Por falar nisso, como vão os estudos?
- Não muda de assunto... O que você acha?
- Não sei... Você quer? - Não sei...
- No nariz?
- É...
- Mas no nariz onde?
- Como onde? Até parece que meu nariz é grande! Só pode ser aqui do lado. Um pontinho só...
- Sei...

Na verdade, eu não sei nada. Repito as respostas sob a forma de perguntas para ganhar tempo e preencher o silêncio que pesa muito mais numa conversa telefônica.

- Você acha bonito?
- Acho...

É, até acho bonito piercing. Só que ficou uma coisa comum demais, como as tatuagens. É quase sempre mero capricho, sem significado nenhum. Mas como explicar isso para uma menina de quinze anos? Nessa idade, tudo é urgente, necessário, imprescindível. E tudo parece meio errado do jeito que está. É como se fosse um absurdo a gente já não ter nascido com o nariz furado e precisasse corrigir a natureza. Passa o tempo - e nem costuma ser muito - e a gente acaba se enjoando daquilo.

E aí começa o problema: desfazer é sempre mais difícil do que fazer. Por isso, sou um tanto cético em relação a novidades. Não se fazem escolhas definitivas aos quinze anos.

Mas ser cético é uma forma de conservadorismo - palavra que, se é abominável aos 45 anos, o que dirá aos 15, quando para escapar dela, qualquer um seria capaz de atravessar uma flecha de uma bochecha a outra, ainda que isso limitasse o consumo de chicletes.

- Se eu fosse você, deixava seu nariz sossegado... Essas coisas são perfeitamente adiáveis...
- Você é um chato!
- Só não gosto de nada definitivo...
- Vai ver que foi por isso que você nunca casou!
- Vai ver, foi mesmo...
- Sabe de uma coisa? Acho você muito imaturo!
- Ainda bem que você me compreende...