12 de janeiro de 2004
Efeitos do sol

O sol, depois de tantos dias. Dito assim não expresso a alegria que esses retângulos irregulares de luz recortados nas paredes e no chão provocam num carioca que já se cansara da falsa londres tropical carregada de nuvens e sujeita a pancadas de chuvas que às vezes são verdadeiro açoite, súbito castigo sem motivo, capricho de um senhor de quem desconhecemos a língua e os desejos.

A casa enche-se de luz e o calor vai rapidamente sugando das coisas a umidade acumulada que lhes dava um brilho escuro - e as deixa tinindo, secas, foscas, acesas. Breve estaremos todos, coisas e gente, implorando por uma chuva que arranque das pedras seu perfume mineral e faça o concreto e o asfalto exalar em vapores o calor acumulado.

Mas, agora, um vento leste muito exato varre as nuvens do céu e disfarça o verão que há nesse sol forte. Ainda é cedo, hora boa de pedalar.

O dever exige que eu escreva, mas tudo lá fora clama como um silencioso carnaval feito só da bruta vibração desse sol de verão - que, de tão quente, derreteu-se a si mesmo em chuvas, feito uma fênix às avessas, que nunca chega de fato a nascer.
Ainda é cedo, não haverá quase pedrestes nem esta crônica se atrasará tanto por isto.Vou, mas não esperem muito do singelo passeio do cronista por este domingo de sol ainda silencioso e morno. O que quero é justamente não pensar, deixar-me ser olhos distraidamente atentos na vastidão nada hostil da autopista interditada do Aterro. Pedalar ereto, sentado no ar, as mãos livres, discreto malabarista orgulhoso de si mesmo por ser todo só sentidos.

(...)

Continuando, trouxe um poemeto:

A gaivota não voa.
A gaivota vai: imóvel.
Asa curvada em vê,
a gaivota veleja
em ventos invisíveis.

Também achei fundamental descobrir que os únicos animais que se queimam no sol são o homem e o porco. Como também que o olho do avestruz é maior do que cérebro. Isso explica muita coisa... Sobretudo, reforça a minha tese que o homem não descende só do macaco, mas de todos os animais. Inclusive, dos mais estranhos cruzamentos. Quer ver? Responda depressa: quantas pessoas você conhece que parecem um cruzamento de porco com avestruz?

Essas informações me vieram por e-mail, nem sei quem me mandou, mas tem toda a pinta de ser um daqueles textos que circulam pela Rede toda, spams benignos, inofensivos e simpáticos. São informações malucas que a gente fica na dúvida se verdadeiras, mas não sabe como checar. Como testar, por exemplo, a informação de que a voz do pato não produz eco?

Um produtor cultural já estará pensando em como faturar com uma instalação envolvendo um coral de patos albinos do Nepal que"qüacam" em uma câmara de eco onde ao fundo é exibida uma montagem de falsos desenhos animados de personagens da Disney em cenas de sexo explícito hardcore. Deve dar pra levantar uma grana com isso, não sei... E tem o propósito científico de mostrar para multidões de brasileiros que, de fato, os patos não fazem eco. Aliás, quantos patos você conhece - responda depressa?

Mais informações que reforçam minha tese: só os chimpanzés e os golfinhos se reconhecem nos espelhos. Agora, me diga, honestamente: quantas pessoas você conhece que de fato se reconhecem no espelho? Eu mesmo... Às vezes... Sei não... (Enfim, seja como for, é sempre bom saber que o nome completo do Pato Donald é Pato Donald Fauntleroy)