25 de abril de 2005
Um Papa apocalíptico?

Pelo visto, o Espírito Santo andava de férias no Rio...
A eleição do cardeal Ratzinger como o novo Papa foi um anticlímax: quando se esperava mais luz, veio a sombra. João Paulo II nos acostumara a uma Igreja mais conservadora, é certo, mas também mais popular. Por mais que se discordasse de suas posições, sua força interior era inegável.

Falta ao novo Papa a simpatia e o carisma de João Paulo que compensavam a opção por uma Igreja mais dogmática, cujo principal teólogo foi exatamente Ratzinger - o que lhe valeu antipatias e o tornou uma figura, no mínimo, controversa.

Eu apostava e torcia por um Papa negro e, no exercício de uma lógica bastante elástica, cheguei a acreditar que essa seria de fato a escolha dos cardeais. Afinal, o cardeal nigeriano Francis Arinze, além de bem cotado nas bolsas de apostas, poderia contrabalançar seu conservadorismo pelo simples fato de ser negro. Ou seja, se por um lado a Igreja reafirmaria sua decisão de se manter firme em seus dogmas e disposições doutrinárias, por outro mostraria sua disposição de se abrir ao Terceiro Mundo. Mas, pelo visto, um Papa preto ainda não pode...

Um aspecto que ninguém parece ter notado na eleição de Ratzinger é que ela contraria a tese de que nações poderosas não fazem Papas - razão porque não haveria um papa americano, como andou se repetindo antes do conclave. Bom, mas a Alemanha é hoje tão poderosa quanto os EUA - ou quase. Lidera a União Européia e é a principal credora da Europa Oriental, Rússia incluída.

Enfim, o marco alemão domina completamente a Europa. Sua falta de poder militar é compensada pelo poder militar da União Européia em si. Logo, era de se esperar que os argumentos contra um Papa americano também valessem contra um Papa alemão. Não valeram.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a opção de Ratzinger pelo nome Bento XVI. Não lhe terá faltado tempo para escolher seu nome papal. Também é improvável que, como teólogo, o novo Papa ignore as famosas profecias de São Malaquias - na verdade, 111 frases curtas em latim, que definem em linguagem cifrada, os papas seguintes, começando por Celestino II (1143-1144) e chegando naquele que seria o último papa antes do Apocalipse.

Pelas contas, João Paulo II foi o antepenúltimo e seu sucessor, segundo as profecias, seria "a glória dos olivais". Sabe-se que a ordem dos beneditinos, fundada por São Bento, tem a oliveira como símbolo.

Some-se a isso que a carta 16 do Tarot é "A casa de Deus" ou "A Torre", representada por uma torre atingida por um raio de onde despencam dois homens. Ah, sim! Bento XVI será o 265º Papa. 2 + 6 + 5 = 13. A carta 13 é "A Morte" no Tarot.

Bom, foi o quanto bastou para excitar a imaginação dos teóricos da conspiração e dos mais variados grupos apocalípticos. Mas a possibilidade dessas associações não podem ter escapado ao próprio Ratzinger. Donde se conclui que ele as terá mesmo fomentado. Fica então a pergunta: será o novo Papa um apocalíptico à espera do Fim dos Tempos? Não falta quem diga que sim.